sábado, 14 de abril de 2012

A regionalização mundial e o aquecimento global em charge

 
Créditos: http://formulageo.blogspot.com.br/

Como usar o LIVRO DIDÁTICO?

Em primeiríssimo lugar, jamais perca tempo decorando datas, listas de nomes de reis, presidentes, generais e ministros, nomes de tratados e de batalhas. Nos livros didáticos, essas datas e nomes vão aparecer para você localizar as coisas. Mas não precisam ser memorizadas. Afinal, decorar é o contrário de raciocinar.
O mais importante é aprender a raciocinar historicamente. Para isso, toda vez que você ler um capítulo, deve fazer perguntas indispensáveis: o que esses acontecimentos têm a ver com o mundo atual? Como eles influenciaram a maneira de viver e de pensar das mulheres e dos homens de hoje? Como eles ajudam a explicar o que está acontecendo agora? As coisas não poderiam ter sido diferentes?


As ilustrações, os gráficos e os esquemas não são enfeites para deixar a página mais bonitinha. Preste bastante atenção porque eles ensinam muitas coisas. Tente arrancar todas as informações que eles proporcionam.
Nas ilustrações, observe que elas informam sobre a cultura de uma época: os prédios, as roupas, os objetos, as ferramentas, os gostos, o que se considerava bonito e importante.
Examine-as com cuidado, curta sua beleza, veja se descobre detalhes novos. A atividade de um historiador alia o raciocínio com a paixão e a admiração pela beleza, as mesmas qualidades fundamentais do amor!
As tabelas, gráficos e ilustrações foram retirados de outras obras. O autor pesquisou bastante para colocá-lo no livro didático. Essa observação é importante para percebermos que todos nós aprendemos com os outros. O autor não é dono da verdade da História nem sabe tudo.




Os textos complementares e as reflexões de outros historiadores servem para várias coisas: acostumar você à linguagem desses profissionais; ensinar a ler um texto e interpretá-lo; mostrar que qualquer conhecimento científico precisa da dúvida, do questionamento, da polêmica. Em outras palavras, por intermédio deles você pode construir o seu conhecimento.
Na maioria das questões propostas no livro, a resposta deve ser encontrada por você mesmo, com sua inteligência, seus conhecimentos, sua experiência, na troca de ideias com seus colegas. Ou seja, não existe uma resposta certa, a não ser que você queira ser o "dono da verdade". Porque não existe uma receita pronta nem um caminho infalível: o conhecimento histórico é construído pela dúvida, pela crítica e pelo diálogo.
As reflexões críticas revelam como o assunto histórico tem muito a ver com a atualidade. E nos deixam a lição principal: jamais aceite alguma coisa apenas porque disseram que era verdade. Procure saber a razão de tudo, recuse o que não for explicado, questione as coisas por diversos lados.
Lembre-se de que num livro didático, você não vai encontrar a verdade definitiva sobre a História. Primeiro, porque em lugar nenhum você encontra uma verdade definitiva. Segundo, porque o choque entre idéias diferentes, o debate, a crítica ao que os outros pensam e ao que nós mesmos pensamos, e a polêmica são fundamentais para a construção do conhecimento.




Procure ler cada frase do livro com espírito crítico. Você não deve aceitar tudo o que está nele só porque é um livro didático! Nem o autor, nem ninguém são entidades supremas que possuem todo o saber do mundo. Se você não gosta de uma explicação, se você discorda de uma conclusão, se pensa diferente do autor, procure discutir isso com seus colegas. Fale com seu professor, debata com ele e a turma. Converse com seus pais a respeito. Peça para seu professor indicar livros e outras fontes onde você possa conhecer melhor o assunto que o despertou. Não seja escravo do livro didático!
Para escrever um livro didático, o autor precisa de muitos livros. Tudo o que está escrito no livro didático foi obtido da leitura de outras obras, de outros historiadores. Ou seja, o autor não é dono do saber absoluto. Ele também aprende muito com os outros.
Na hora de escrever um livro didático, muitas vezes o autor fica numa encruzilhada: “Esse historiador explica um acontecimento dessa maneira. Esse outro tenta mostrar que o acontecimento teve outros motivos. Qual dos dois parece mais verdadeiro?” Quando você ler um livro didático, pode ter certeza de que ele poderia ter sido escrito de outra maneira, tão válida como esta. Por isso, nunca se esqueça de que duvidar e questionar são atividade muito saudáveis.




A conclusão disso tudo é que o autor também tem dúvidas na hora de escrever. E na hora em que o livro fica pronto, o autor sempre se pergunta: “Será que é assim que eu deveria ter escrito?” Saber disso não deve levar você a ficar inseguro. Ter dúvidas, criticar, querer saber mais não levam ninguém a se perder. Ao contrário, a crítica nos ensina a pensar por conta própria, sem nos submetermos a ninguém. Como nos ensinou o filósofo Kant, o principal objetivo da educação é ensinar a pensar com autonomia.

Créditos ao blogdatolerancia.blogspot.com.br

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

COTAS: O DEBATE QUE NINGUÉM FAZ

Ao contrário de tantos outros abelhudos que se atrevem a debater o sistema de cotas, não gastarei neurônios num inútil preâmbulo autodefensivo ou em estatísticas e sagazes ponderações antropológicas. Mais importante de que esgotar a discussão é expô-la como terreno fértil para distorções e arbitrariedades, quebrando esse verniz de tabu que alguns inventaram para cercear o saudável hábito da discordância.

A animosidade mistificadora de certas posições favoráveis às cotas constitui uma (inconsciente?) manifestação de autoritarismo e utiliza estratagemas comuns a todas as formas de pensamento único. Criou-se uma confortável redoma em torno da polêmica, restringindo-a tanto aos beneficiários afro-descendentes quanto a especialistas dotados de jargões tidos como inquestionáveis. A simples contestação se transformou num atestado de preconceito racial, sufocada pela perene ameaça de constrangimento público. É a consagração do politicamente correto, raciocínio silogístico de aparência inofensiva que esconde uma empobrecedora tentativa de homogeneização cultural, com respaldo na hipocrisia e no policiamento histérico.

Enquanto isso, a sociedade brasileira vai sendo obrigada a engolir outra engrenagem de valores importada cegamente dos EUA, país com violento histórico de segregação e conflitos étnicos, onde as chamadas “ações afirmativas” fortaleceram o repúdio à miscigenação e não impediram uma velada permanência de hábitos discriminatórios com o sinal invertido. Nossa multiplicidade cultural antiqüíssima, predominantemente sincrética, é demasiado conhecida para insistirmos nas particularidades que deveriam ser levadas em consideração antes de se instituir por aqui uma idéia controversa e talvez malsucedida onde implantada.

Não seria um perigoso equívoco usar pretextos étnicos para diferenciar cidadãos, influenciando o acesso a vagas em instituições de ensino, postos de trabalho ou qualquer objetivo pleiteado por muitos? Esse problema metodológico não é a única objeção possível, mas permanece a mais insolúvel. Imaginemos o absurdo dilema: apelamos para a aberração de estabelecer “raça” utilizando meios pretensamente científicos, investigamos 200 milhões de genealogias ou aceitamos veredictos calcados em critérios tão frágeis como a tez ou o depoimento pessoal.

O sistema de cotas cumpriria um papel lamentavelmente desagregador numa população cuja esmagadora maioria possui algum descendente escravizado, explorado ou humilhado. É retrógrado e incoerente porque reforça ilusórias diferenças quando deveria destruí-las. É traiçoeiro porque ratifica a competição e o oportunismo, já endêmicos. E é injusto porque passa ao largo da miséria ao selecionar suas vítimas, como se houvesse diferença entre flagelados negros, cafuzos ou verdes com bolinhas roxas.

A inclusão social é uma necessidade em âmbito nacional, cuja premência transcende políticas compensatórias limitadas e paliativas. A luta contra o preconceito corre o risco de cair no oficialismo burocrático e perder uma credibilidade conquistada a duras penas, pela eterna reafirmação da essência criminosa do racismo, em detrimento do combate aos alicerces materiais da desigualdade.

Esse debate envolve toda a sociedade e precisa ser abordado de forma transparente, sem ressentimentos, simplificações paternalistas ou maniqueísmos superficiais.
Guilherme Scalzilli
Revista Caros Amigos
Edição 89
Agosto de 2004